terça-feira, 27 de outubro de 2009

Um finito eterno momento

Não ter o que recordar.
Não ter o que sonhar.
Não ter o que tocar.
Não ter o que falar.
Ora silêncio,
Ora soluço,
Ora grito calado,
Ora corro parado.
Sem cor
Nem amor,
Sem movimento
Resta um finito
Eterno momento
Eu
Trancado
Dentro
De
Mim!

(Colibri Lunar)

Sepulcro raso

O tempo cavalga
Em terreno plano.
A dor condensa-se
Num estopim insano.
A luz empalidece.
Meus olhos umedecem.
Abruptas sensações
Que emanam do não-eu.
Oh! penumbra do esquecimento
Que paira em meu peito.
Para que rimar
Essas fúnebres palavras
Se do meu coração
Escorrem ideais abortados?
E para quem segredar
Sentimentos
Se os amigos são ausentes,
E a intrepidez
Paralítica e muda?
De que me adianta sonhar
Se o mundo da realidade
Rasga o peito
E expõe a chaga?

(Colibri Lunar)

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Alma alquebrada

Dá-me o beijo
Da tua boca serena!
Dá-me sem pejo
Com tua boca pequena!

Faz tanto tempo que não te vejo,
Sinto falta do teu fitar que me domina.
Quero saciar o desejo
De ter de volta a tua alegria menina.

A ti meu coração ensejo
Que imergido em dor alucina.
Ao vento brando invejo,
Porque ao tocar tua pele te fascina.

Oh! meu Deus a ti rezo
Que nunca cesse a luz que o ilumina,
E que a vida dele sempre encontre gozo
Na tua felicidade divina!

(Sophie Amadeus)

Beija-flor

Meu beija-flor,
Em teus olhos beijar;
Minha boca faminta,
A tu’alma fitar;
Meus ouvidos sedentos,
Ao tocarem-te sem cessar;
Minhas mãos gulosas,
Ao ouvirem-te cantar;
Meu corpo inane,
Pelo teu respirar
Num êxtase fatídico
De querer do teu amor
Me sustentar...

(Sophie Amadeus)

domingo, 25 de outubro de 2009

Colossal covardia

Um animal ferido
Numa gruta fria e escura.
Dentro do pequenino
O medo que o apavora,
Confusão de sentimentos,
Debruçado no chão a prantear,
Grita e ninguém o percebe.
Encolhido num canto úmido
Trava uma guerra contra si mesmo,
Perdendo as lutas
Sem nem mesmo lutar,
Sem haver um confronto, de fato.
Ergueu bandeira branca,
Mas sem piedade
Foi atingido n’alma
E sepultado “vivo”
Por causa de sua colossal covardia!

(Colibri Lunar)

sábado, 24 de outubro de 2009

O Nada é ser

O Nada não é o nada, de fato.
Ele tem corpo e também chora,
Tem o seu valor real.
Às vezes, até parece normal,
Mas quando marginalizado
Seu coração se abate,
Sua vida se anula,
Seus sonhos se afogam
No oceano da desesperança.
Por vezes, tenta libertar-se
Das gaiolas da indiferença
E das algemas da solidão.
Sente-se como um doente isolado,
Por ter uma doença altamente contagiosa;
Ou como um mendigo mal-cheiroso

Que pede esmola.
Tenhamos compaixão pela sua dor.
Perdemos todo nosso espírito filantrópico?
Será que em nós sobrou alguma gota
Da essência natural do amor?
Sejamos sábios para não sermos
Nada sem coisa nenhuma!


(Colibri Lunar)

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Polícia bandida

Vivemos numa caixa quebrada,
Numa cápsula violada,
Num mundo de imoralidades,
Numa vida de vaidades
Com ar de podridão.
Ora quem nos bate a face pálida
Deveria nos proteger dos apuros,
E não nos amedrontar,
Empunhar-nos o revólver,
Empurrar-nos ao abismo da insegurança
E violentar nossas economias.
A polícia é uma instituição falida,
Uma vagabunda-bandida
Que nos rouba e nos abate,
Que nos molesta e pela,
Que nos condena ao cárcere
Deste país das loucuras.


(Colibri Lunar)

País das loucuras


Todos nós somos loucos,
Afinal, vivemos no país das loucuras
Onde tudo tem um jeitinho;
Onde o crime é aplaudido de pé no governo;
Onde os ratos discursam e são aclamados;
Onde a justiça é cega, de fato;
Onde a marginalidade é respeitada;
Onde ser honesto é motivo de piada;
Onde bandidos tem patente e farda;
Onde a corrupção é uma epidemia;
Onde ser assassinado é aumentar os números das pesquisas;
Onde os homens de bem se refugiam atrás das grades de casa;
Onde as crianças trabalham nas ruas para sustentar suas famílias;
Onde os idosos são espancados e discriminados;
Onde os mendigos são queimados vivos enquanto dormem;
Onde a inocência é violentada;
Onde a água doce vira depósito de esgoto;
Onde os delinquentes planejam e executam seus crimes direto da cadeia;
Onde o dinheiro dos fiéis das igrejas enriquece ilicitamente seus diligentes;
Onde o branco é encardido;
Onde o preto é desbotado;
Onde o podre não é descartado;
Onde o bom apodrece para ser ingerido;
Onde os absurdos são tão normais;
Onde só sobrevivem os hipócritas!


(Colibri Lunar)

Ser absurdo


Somos seres pensantes,
Por quê?
Somos seres inteligentes,
Por quê?
Somos seres superiores,
Por quê?
Qual é o animal irracional
Que destrói seu próprio habitat?
Qual é o animal irracional
Que mata seu semelhante só por prazer?
Qual é o animal irracional
Que suja a água que vai beber?
Somos seres racionais,
Por quê?
Racionamos a vida
No sentido de acelerar o fim do mundo,
Desmatamos florestas,
Poluímos rios,
Criamos armas de destruição em massa,
Enquanto milhares de pessoas morrem de fome?
Ser humano é ser um ser absurdo!

(Colibri Lunar)

Asas de amor


As borboletas tem asas delicadas de pétalas de flores.
Quando voam derramam por onde passam
Um aroma doce que lembra a saudade,
Que acorda o passado,
Que balança o presente,
Que muda o futuro;
Das suas asas cai um pó,
Uma essência,
Uma especiaria,
Uma esperança,
Que pousa n’alma dos apaixonados
Percorrendo na corrente de seus sentimentos,
Multiplicando-se entre as células do amor
Dando vida aos sonhos... ressuscitando desejos...

(Sophie Amadeus)