sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Absorto

Meus sentimentos fluem
Na tinta da caneta
Difusando palavras mórbidas,
Desnudando meu ser sem órbita
Absorto em paixões medíocres,
Em meio a tempestades torpes,
No vão da caminhada triste.
De que vale as lágrimas
Se elas mancham o papel?
De que vale o apreço e o afeto
Se a apatia dos outros triunfa?
De que vale o bocejo
Se a insônia rasga a noite?
De que vale os dias
Se não se vive para amar?
E assim,
A caneta rabisca
Traçando nas linhas tortas
Meu inconsciente
Consciente
Que é inquietantemente
Quieto!

(Colibri Lunar)

Sublime é o amor

Este caráter de suma emoção
Foi por Deus personificado,
Induzindo-nos a admiração
Ao Seu espírito iluminado!

Segundo Ele, de nada vale a presunção,
Pois ela nos torna seres hostilizados.
Temos que ter o nobre amor no coração
Que por muitos fora desdenhado!

Sejamos sempre discentes,
Praticantes da probidade
Para encontrarmos ânimo,

Alma altiva e crescente,
Propulsora da real felicidade
De dizer ao próximo: - Eu lhe amo!

(Sophie Amadeus)

Malogrado


Meu lânguido sorriso a pernoitar,
Dentro minh’alma malferida,
Tantos sentimentos assolados,
Insalubre o peito malogrado!
Desaterro o mais fundo de mim,
Em busca do meu eu perdido.
Em pranto seco ferido grito:
“-Quero me encontrar, porque
Sem mim não sou eu
Sem eu sou um ser sem mim.”
Rebento em martírio triste névoa
Fatigado, fracassado, farto,
Então, soluço, caio e morro!

(Colibri Lunar)

Andarilho

Caminha... caminha...
Em passos constantes.
Não se atrasa
Nem mesmos volta atrás.
Sério.
Organizado.
Ilustre.
Todos o marcam
E ele marca a todos.
Nunca envelhece,
Mas arranca a mocidade
De quem se debruça na vida.
Sem defeitos.
Desfeito chora por ele o acomodado
Que se perdeu entre seus próprios
Pensamentos atrofiados.
E ele segue pela estrada a desbravar.
Seu vulto é todo o passado.
Seu presente intenso e volátil.
Seu futuro é um trajeto a ser elaborado,
Envolvendo-nos num ritmo
Nem sempre empolgante.
E quem o segue não para jamais,
Porque ele é infinito
No finito do nosso existir.
Andarilho de botas fortes
Que enfrentam os atoleiros da estrada.
Sábios são aqueles que o seguem
Não desistindo quando
Assoleados e tristes,
Com fome e descalços,
Com frio e sede
No caminho poento
Da estrada longa e torta.


(Sophie Amadeus)

Ser artificial

A mão que procura,
A boca que deseja,
O olhar que inunda.
Mente cheia.
Coração vazio.
De repente, incendeia
Num instante já faz frio.
Amputam-se as mãos,
Costura-se a boca,
Arrancam-se os olhos,
Deprime o pensamento,
Aflige a alma,
Encharca no sangue a dor,
Rasga mais a ferida,
Amarga mais o fel da vida.
Contudo,
Põem-se próteses de mão,
Cortam-se os fios da boca
E a língua
Para ficar sem voz,
Colocam-se olhos de vidro.
E choro eu,
Pois aqui jaz
Eu mesma.
Renasce, então,
Um ser artificial
De mim
Sem mim

Para o nada...

(Colibri Lunar)

Estilhaços

Como anda abatida minh’alma,
Arrastando-se em estilhaços de vidros quebrados.
Meu sangue escorre pelos olhos
Como gotas cristalizadas de solidão,
Numa desventura sofrida,
Num gritar sussurrante,
Numa corrida desesperada e inerte,
Numa dor medonha e absurda.
Meu corpo já não obedece.
Minha mente sem razão não suporta.
Existem pedaços de vidros
Encravados nos joelhos dos meus sentimentos.
Não há como estancar o sangue.
A hemorragia debilita o eu desfigurado.
Minha morte é anunciada
Estou prestes a falecer.
Minhas últimas palavras são
Balbuciadas na escuridão...
Quem me dera recuperar o viço,
E tomar-te em braços meus
Oh! vida minha!
Oh! ar meu!
Teu sorriso é meu.
Teu olhar me pertence.
Teu amor eu suplico.
Sem forças
Meu corpo tomba
E minha vida se esvai
Entre os estilhaços de vidros quebrados!


(Sophie Amadeus)

Mortuária

Rastejando entre vidros quebrados.
O trajeto é perto longe da estrada.
Meu sangue escorre nos estilhaços.
Estou flume em lágrimas a perder o ar.
Estou sem voz a gritar.
Derrisão externa.
Dor introspecta.
Sangrando.
Sufocado.
Emudecido.
Fracassado.
Minha vida sem viço
Logo se esvaíra!

(Colibri Lunar)

Desabafo

Ah! como foi bom te conhecer,
Mas arrancar-te do pensamento
É tarefa difícil que não me foi ensinada.
Amo-te, e a este sentimento estou condenada!

Ah! como foi bom ter o teu olhar,
Mas é triste saber que ele tem novo horizonte.
É melancólico hoje o meu olhar
Que derrama lágrimas de solidão!

Ah! como foi bom compartilhar do teu sorriso,
Mas a tua ausência meu sorriso matou.
É o meu pesar tão insuportável
Que me suprime o ar em asfixia!

Ah! como foi bom escutar a tua voz,
Mas é frustrante este silêncio agora.
É mortífera a saudade que me consome os pensamentos,
E deixa-me difusa em meio as nossas recordações!

Ah! como foi bom ter os teus abraços,
Mas estou com frio pela falta dos teus carinhos.
É mentecapta a sensação de desabraço
Neste meu novo – velho caminho!

Ah! como foram bons teus beijos,
Mas minha boca está a murmurar
Pelos teus lábios de brasa viva.
De fato, preciso de você em minha vida!

Ah! como foi bom sentir o teu amor,
Mas que pena que não foi amor.
Deve ter sido uma paixão – efêmera,
Que esmiuçou minh’alma sem pena!


(Sophie Amadeus)

Sinto que não sinto

Sinto falta das pessoas,
Mas nunca senti a presença delas;
Sinto falta dos amigos,
Mas nunca tive a oportunidade de conhecê-los;
Sinto falta da felicidade
Sem mesmo saber quem ela é de fato.
Sinto falta de sentir emoções boas,
Como: carinhos, afagos e abraços.
Porém, sinto que nunca os senti de verdade.
Sinto falta de mim mesma,
Contudo, não sei quem sou.
Sinto muita falta de ti
Sem saber nem mesmo quem és.
Tanta que chego a imaginar
Como és,
Como estás,
Como vive,
E se realmente sente algo intenso
Ou se é como eu
Sem referências,
Sem sentido.
Como uma partícula de poeira
Esquecida no vento,
Como uma estrela morta no espaço,
Como um pássaro cativo numa gaiola de ossos,
Como um absurdo tudo de nada!

Olhos miúdos

Teus olhos pequenos
Quase singelos,
Mas não posso deixar
De apreciá-los
Em sua delicadeza!

Olhos teus miúdos
Que choram ao sorrir
E sorriem ao chorar.
Dois estímulos de alegria.
A clara percepção da tua luz!

Lindos olhos de prazer
De ver a vida como um fluxo.
Apaixonados pela emancipação,
Amigos, sol, diversão...

Meus olhos aos teus fitam,
Numa ótica de sedução.
Verdadeiras esferas de grafita
Que fazem linhas e traços
Em minha vida outrora branca!

Abra sempre
Tão grande miudeza
Para saudar-me
Com a beleza simples e pura
Dos teus olhos de felicidade!

(Sophie Amadeus)

Sepultura

A morte não é morrer,
É parar de sonhar.
Não é deixar de respirar,
É não aspirar por nada.
Não é a falência dos órgãos,
É nunca ter sentido amor.
Não é o fim do caminho,
É o começo da estrada.
Não é um rio sem água,
É água sem leito.
A morte foi assassinada e enterrada,
No sepulcro das mentes vazias,
No coração das pessoas tolas,
Na vida sem vida dos hipócritas!

(Colibri Lunar)

Politicóide

Nós sofremos por nossa desorganização
Uma dura e triste realidade.
Alheios a órbita política em alienação.
Politiqueiros em seu lodo de iniquidades.

Há tanta mácula nesta prevaricação
Enchendo-nos os olhos d’água, ó fatalidade!
Eles roubam o erário no ínfero da corrupção,
Pois neles não existe responsabilidade.

Repletos de escárnio e prepotência,
Vivem numa imoral e injusta governança.
Tornam nossa vida depascente,

E testam toda a nossa inteligência.
Dê-nos, ó Deus muita força
Para reverter esse quadro indecente!

(Sophie Amadeus)

Insânia

Estou cansada de vagar
Na esteira da minha vida,
Na escuridão do meu labirinto,
Nos passos da própria insorte.
Às vezes, a alegria pernoita em meu coração
E depois adeja e alça voou
Rumo ao horizonte bem distante de mim.
Rotina.
Acomodação.
Desanimo.
Não demonstro tal melancolia
E por ironia
Divirto a selvageria.
Que puta hipocrisia,
Pois no fim do espetáculo
Choro só,
Por ser assim
Tão sozinha!

(Colibri Lunar)

Emanuel – luz de um novo dia

Meu dia negro raiava.
Obrigada a andar logo caia.
No céu um tímido ponto brilhava.
Era a luz que só eu via,

Mas que em mim não se arraigava.
Então, chorando eu ia
Pelo caminho como uma escrava
Da tristeza que me consumia.

De repente, senti uma entrava
Nenhum passo se seguia.
Será que a labuta terminava
Como eu tanto queria?

Minha vida se iluminava
Por uma luz que de longe me seguia.
Era O Emanuel que me abençoava
Com um novo e claro dia!

(Sophie Amadeus)

Minha alusão à vida

O sol acordou,
E eu dormi;
A lua chegou,
E eu saí;
A chuva surpreendeu,
E eu fugi;
O vento falou,
E eu ensurdeci;
O mundo girou,
E eu parei;
O tempo passou,
E eu fiquei;
As portas se abriram,
E eu me fechei;
A felicidade bateu,
E eu não abri!

(Colibri Lunar)

Minha genitora

Tua presença é tão agradável,
Mostras-te tão dedicada.
Todos julgam-te indispensável,
Pois és mui estimada!


Teu sorriso é amável,
Tua roupa é perfumada,
Teu jeito é afável,
Por Deus foste abençoada!
Tu’alma é morada esplêndida,
Berço de um amor tão bonito.
Minha mãe é amiga


Que por todos é querida.
Teu coração é todo o infinito
Que como um ninho me abriga!

Eu

Sou a simplicidade
E a complexidade,
Sou a alegria
E o tédio,
Sou sincera
E solitária,
Sou a janela fechada,
Sou vida
Sem viço,
Sou mansa indomada,
Sou seca
E molhada,
Sou pegada sem marca,
Sou um diamante fosco
E sem brilho...

(Colibri Lunar)

Caminhada

Caminhemos com coragem,
Porque a estrada nunca fora desbravada.
Caminhemos com cuidado,
Porque parece ser arriscada.
Caminhemos sem pressa,
Para que a alma não fique fatigada.
Caminhemos para desvendar
Os mistérios da caminhada,
Assim, ansiamos encontrar.
A felicidade tão almejada
E sermos pioneiros desta estrada
Tão venturada!

(Sophie Amadeus)

Monólogo Melancólico

Quantas vezes foste-me pérfida
Deixando-me entristecer
Com suas palavras de maldizer?
Se depender de sua ajuda estou perdida.

Como és tão bandida
Fazendo meu coração perecer.
Clamo-te: - “Deixe-me viver!”.
Quisera por ti ser esquecida.

Fadigas-me. Estou mórbida.
Quisera, de súbito, ascender,
Reconstruir-me e vencer,
De fato, ter uma vida!

Minh’alma ressentida
E tu insistes em me ofender.
Será que não vais desaparecer?
Solilóquio sem ser entendida...

(Colibri Lunar)

Matemático

Passeias com ela no céu.
Dá voltas e voltas...
E aquece.
E umedece.
E entorpece.
Toma-me em desejo
Com tua língua de álgebra,
Teu sistema linear,
Teus números complexos
A fatorarem grandes emoções...
Estudarei as matrizes
E determinantes
Do teu prazer.
As tuas equações
E inequações
Calcularei até o resultado final.
Revele-me a tua identidade,
O teu corpo geométrico,
O prisma da tua face cálida,
A superfície dos teus braços largos
Para que eu possa relacionar
A tua grandeza mensurável
Por tua curva belamente definida.
Partirei do teu ponto zero
Para conhecer as tuas coordenadas!

(Sophie Amadeus)

Imaginário

Converso comigo mesma,
Sorrio comigo mesma,
Choro comigo mesma,
Debato sem chegar
Ao entendimento de mim mesma.
Meu inconsciente
É consciente
Que não é ciente de nada.
Não me concentro.
Não me conheço.
Observo tudo,
Mas tenho falha perceptiva.
Lembro o que não importa lembrar
Esqueço o que devo gravar
Para usar a favor de mim mesma,
Mas quem sou eu?
Sou ele
Ou sou eu mesma?
Imaginário que persegue.
Sinto-me refém
De uma mentecapta realidade
Que não é real,
Que não é tolerada,
Que não é entendida,
E nem deveria ser,
Porque só existe em meu pensamento.
Ah, que tormento!
Não sei se acredito
Em tal ilusório.
Sinto sensações involuntárias
Comandadas por esse “eu”
Que não sou eu “mesma”.
Paciência!!!
A razão é segurança,
Mas o fantástico
É o espanto do incerto,
Do inseguro da minha mente - humana.

(Colibri Lunar)

Mel-fel

Tua presença é ânimo
Que esmorece.
Teu sorriso é doce
Que amarga.
Teu olhar é raio de luz
Que anoitece.
Estou ferida
Pelo teu mel-fel
Debilitada por uma dor
Estranha conhecida...
Oh! que tristeza alegre
É a tua vida
Que a mim causa moléstia.
Ardo em febre
Frio martírio.
Padeço num constante
E inerte delírio,
Cujo teu corpo é o remédio
Que me causa enfermidade.

(Sophie Amadeus)

Vida?

Sorrio
Sem sorrir;
Choro
Sem chorar;
Ouço
Sem ouvir;
Olho
Sem olhar;
Pego
Sem pegar;
Grito
Sem gritar
Como
Sem comer;
Visto-me,
Mas sinto-me despida
De toda afeição.
Ah! durmo
Sem dormir.
É triste fechar os olhos
E não sonhar.
Ter uma ferida
Que sangra por dentro.
Uma chama
Que inflama
Em meu peito
Que não consigo apagar.
Estou ladeada de gente,
Mas sinto-me só.
Tenho tudo,
Porém não tenho nada.
Meu cérebro é uma máquina
Que labuta e não faz nada.
Corro
Sem sair do lugar;
Se abraço é sem calor;
Se beijo é sem amor;
Se gosto não sei expressar.
Vivo
Sem viver;
Morro
Sem morrer.
Tenho em meu peito
Um fúnebre coração.
Meu pranto é seco,
É dor.
Um olhar distante.
Ideal rasgado.
Sonho perdido.
Alma em pedaços.
Armadura desmanchada.
Afinal, tudo está sem sentido!

(Colibri Lunar)